DESAFIOS DO JOVEM ADVOGADO

por Haiane Cavalcante dos Santos

O BACHARELADO

O desafio do jovem advogado começa com os cinco anos de faculdade, nos quais o, então estudante universitário, tem a difícil tarefa de decidir qual atividade e matéria do Direito seguir. Dedicar-se aos Concursos Públicos ou seguir a Advocacia? Atuar na área Cível, Empresarial, Trabalhista, Penal, Previdenciária ou Ambiental?

Lembro-me de iniciar a graduação com o desejo de ser Promotora Pública e atuar na área criminal. Tive esse sonho até o terceiro semestre, quando uma professora de Direito Constitucional colocou todos os prós e contras das carreiras públicas e advocatícias em mesa. Fiquei balançada e levei uma indecisão comigo até o sétimo semestre.

Mas, apesar de não ter a certeza de qual carreira me dedicar, decidi no quinto semestre estagiar no Tribunal de Justiça da Bahia, onde contribuí até o fim do meu curso, sendo os dois últimos anos de contribuição em uma vara do Tribunal do Júri, por óbvio. Precisava ter a experiência que sempre desejei. Amei! Foi um aprendizado ímpar! Evoluí muito! E pude ver o enriquecimento que o estágio trouxe aos meus semestres.

No entanto, como dito acima, mesmo estagiando em área diversa, convivi com uma indecisão até o sétimo semestre, quando meu coração pulsou para o Direito do Trabalho, enquanto cursava a disciplina de Processo do Trabalho. Esse âmbito do direito me fascinou e, então, decidi me dedicar a congressos, livros e palestras que versassem sobre o mesmo. Esse também foi o domínio do meu Trabalho de Conclusão de Curso e, posteriormente, da minha Pós-graduação e Segunda Fase do Exame da OAB.

E por falar na prova da Ordem, ao escolher seguir a carreira da Advocacia, esse é o desafio mais temido e, talvez, o maior obstáculo enfrentado pelo estudante e aspirante a advogado. São duas fases, nas quais se tem que mostrar não apenas conhecimento, mas também equilíbrio e domínio no quesito estratégia para a resolução das questões.

Encerrando esse ciclo, a verdadeira batalha se trava com o início da carreira para o jovem advogado.

OS DESAFIOS NO INÍCIO DE CARREIRA

Com a aprovação na prova da Ordem, precisamos “ticar” uma série de quesitos necessários para nossa inscrição no quadro de advogados, como entrega de documentos pessoais e atestado de idoneidade (assinado por três advogados), além do pagamento da primeira anuidade proporcional e compra de certificado digital e token, os quais serão utilizados para acessar o sistema e assinar e peticionar documentos.

Passada essa parte burocrática e necessária, damos início à árdua militância. Saber entrevistar o cliente, elaborar peças processuais, lidar com os sistemas operacionais de peticionamento, se portar nas audiências, fazer a networking, descobrir o nicho de atuação e se você deve montar um escritório, se deve trabalhar em parceria ou sozinho são tarefas difíceis de serem encaradas pela primeira vez.

De início, precisamos ter o traquejo ao entrevistar o cliente. A entrevista é a nossa oportunidade de colher todas as informações e provas necessárias para a elaboração da nossa petição. Ao ponto que, caso seja feita de forma incompleta, nos impedirá de elaborar uma peça processual de qualidade e com boas argumentações, além de mostrar nossa insegurança para quem nos contratou, devido à série de perguntas feitas a ele posteriores ao primeiro encontro.

Já na elaboração de petições, o jovem advogado precisa ser humilde ao se deparar com suas dificuldades. Pesquisar modelos em livros ou sites e pedir ajuda a colegas que já tenham certa experiência, não são tarefas vergonhosas, mas, sim, necessárias para que se tenha uma base de como iniciar e finalizar uma peça processual. Com a conclusão desta etapa, o próximo passo é peticionar no sistema adequado. Cada grupo de matéria do direito tem um sistema operacional distinto. Por exemplo, para peticionar ações que versem sobre o Direito do Consumidor em pequenas causas, utilizamos o PROJUDI; para ações que versem sobre Direito do Trabalho, utilizamos o PJE/TRT; para ações que versem sobre Direito de Família, recentemente passamos a utilizar o sistema do PJE/TJBA; para ações Criminais, utilizamos o E-SAJ. Cada sistema tem sua interface própria, a qual precisamos dar toda nossa atenção nos seus pequenos detalhes. Mas, não se preocupe, para que você, que iniciante na carreira, não tenha extremas dificuldades para tanto, a OAB promove cursos para o manuseio dos mesmos na sede da Escola Superior da Advocacia.

Após o peticionamento você saberá a vara de destino da sua ação, o juiz titular da mesma e, a depender do caso, a data de audiência. Portanto, atenção! É necessário que se faça uma pesquisa sobre a vara e o juiz. Faça um laboratório. Vá em audiências, anote o que for necessário para que você saiba como se portar quando chegar a sua hora de estar em mesa para discutir a lide. Descubra se aquele juízo promove audiências unas ou fracionadas, quais argumentos são aceitos por ele, qual a sua tendência (prol autor, prol réu). Tudo isso precisa ser feito para que você tenha uma boa desenvoltura. E, acima de tudo, respeite o seu colega que está do lado oposto. Ele não é o seu inimigo, está apenas defendendo direito diverso do seu.

Fazer a networking, ou seja, uma rede de contatos em que você possa estabelecer uma conexão com outros colegas, em início de carreira ou já experientes, para partilha de informações e serviços, é importantíssimo.  Isso irá mostrar a sua humildade, a seriedade que você está levando sua profissão e o respeito que você tem para com todos. Portanto, participe de eventos da OAB, vá a Congressos que sejam da sua área de interesse ou não (para que você tenha um leque de possibilidades) e mantenha contato tanto com professores quanto com colegas que você teve afinidade profissional, ainda na sua graduação.

Por fim, mas não menos importante, você deverá ter atenção ao nicho de atuação que te cerca. Ou seja, precisa identificar qual segmento de público tem chegado para você. Qual a área que você mais tem atendido? Consumidor? Empresarial? Trabalhista? Família? Foque e se especialize nela. Faça uma pós-graduação, um mestrado. Mostre ao seu público alvo que você tem se qualificado e tem tido o domínio sobre a matéria. Já com relação à montagem de um escritório, veja qual a sua necessidade, desde o atendimento ao cliente até a manutenção de um ritmo de trabalho. Além disso, atente-se para o seu perfil profissional. Você é aquele tipo de pessoa que desenvolve muito bem sem um lugar fixo para trabalhar ou precisa de um ambiente de trabalho para sentir segurança? Trabalharia sozinho ou precisa de alguém para dividir tarefas e áreas de atuação? Essas são perguntas que você precisa pôr em questão e respondê-las de forma atenta.

Essas foram as minhas dificuldades em início de carreira. De fato, o início na advocacia é muito difícil. Por isso, você precisa ter garra, não ignorar suas dificuldades, ter humildade ao pedir ajuda sempre que necessário e não subestimar o seu talento e a sua capacidade em superar os desafios.

Hoje sou advogada com um ano e quatro meses de inscrição que já posso meu escritório próprio em sociedade com uma amiga de graduação, Conselheira no Conselho da Jovem Advocacia Baiana e pós-graduanda em duas áreas de atuação, que descobri serem meu nicho profissional. Foi fácil? Não! Mas, foi possível!

A ATENÇÃO DA OAB AOS JOVENS ADVOGADOS

A OAB, através do CCJA, conselho composto por advogados que tenham até cinco anos de inscrição, tem exercido um trabalho importante de acolhimento para aqueles que estão em início de carreira.

Através dos seus projetos, a Instituição tem procurado facilitar não apenas o ingresso, mas também a manutenção do jovem militante, assegurando-lhe as prerrogativas e combatendo toda e qualquer ação que limite a atuação profissional do mesmo. Assim, o iniciante tem as portas abertas para participar de sessões do Conselho e lá partilhar as dificuldades que tem enfrentado, além de poder conviver com advogados experientes que enriquecem a sua carreira. Os trabalhos conquistados são inúmeros: desconto na anuidade, que começa com 50% no primeiro ano de inscrição; palestras e cursos importantes e acessíveis na Escola Superior da Advocacia (ESA); Meu Escritório, onde os advogados podem atender seus clientes e ter um ambiente de trabalho com qualidade a baixo custo na sede da ESA; entre muitos outros.

Com razão de causa, posso afirmar que o papel da OAB no acolhimento do jovem advogado é valioso. Hoje faço parte de uma instituição democrática que se importa com seus membros e que nos ensina a trabalhar sempre em favor da nossa classe.  Te convido, em nome da Presidente Sarah Barros, a fazer parte dessa Corpo.

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Sobre a Autora:

Haiane Cavalcante dos Santos

Advogada desde março de 2018, Conselheira no Conselho Consultivo da Jovem Advocacia da Bahia – CCJA/BA, Sócia no Escritório de Advocacia Chaves & Cavalcante, Pós-graduanda em Direito e Processo do Trabalho e em Direito Processual Civil

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2 Respuestas a “DESAFIOS DO JOVEM ADVOGADO”

    1. Obrigada Ferreira pelo carinho e apoio, Vou passar para a Autora, Haiane.
      Abraços
      Nadialice.

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